domingo, novembro 28, 2010

Porque o boi subiu tanto e o que esperar pela frente?

 Por: Miguel da Rocha Cavalcanti
Engenheiro Agrônomo pela Esalq/USP, pecuarista e Diretor de Marketing da AgriPoint
twitter: @mcavalcanti

Essa semana fiz uma apresentação para uma série de analistas de investimentos em São Paulo, a convite do Citibank. A principal pergunta foi: porque o boi subiu tanto? Esse artigo é uma reflexão sobre os pontos apresentados e uma busca por entender o que pode acontecer daqui em diante.

O mercado do boi gordo é influenciado por uma série de fatores que interligados formam o preço do boi. Vou tentar listar e avaliar cada um deles.

Do lado da demanda, a economia mundial, em especial os países emergentes, está em recuperação, com aumento da demanda por todo tipo de produto, com destaque para alimentos de maior qualidade, como carnes e lácteos. No Brasil, o consumo segue muito aquecido. Mercado interno e externo demandam mais carne bovina. Isso é um fator altista. Vale lembrar que o Brasil é o segundo país com maior paridade de poder de compra segundo o índice BigMac da revista The Economist. Esse índice é calculado duas vezes ao ano e compara o preço do sanduíche mais famoso do McDonalds em diferentes lugares do mundo. O preço brasileiro, em outubro, era o segundo mais caro do mundo, abaixo apenas da Suíça.

As exportações estão firmes, bem acima dos valores de 2009 no acumulado do ano e no mercado interno, o consumo está ainda mais aquecido. Devido a facilidade de se medir numericamente as exportações e a cotação do dólar, acabamos prestando mais atenção a esses dois indicadores do que ao consumo interno, que representa por volta de 80% da produção brasileira. A força do consumo interno é um fator cerca de quatro vezes mais importante que as exportações.

Do lado da oferta, temos uma série de fatores altistas, uns de longo prazo e outros de curto prazo. O abate de fêmeas se elevou muito de 2002 a 2007, com destaque para os anos 2005, 06 e 07. Nesse período, o pecuarista desinvestiu, vendeu ativos (vacas) para pagar seus custos. Isso gerou preços ainda piores no período, pela maior oferta de carne (de vaca) no mercado, e agora gera a escassez de bezerros para reposição.

O aumento da produção de carne bovina nos últimos 10 anos se deu mais pelo abate de fêmeas do que pelo maior número de machos abatidos. Isso está cobrando seu preço agora.

O aumento da eficiência e produtividade da recria e engorda (a pasto e em confinamento) ajudaram a pressionar ainda mais a falta de gado para abate hoje, pois no período que tivemos maior abate de fêmeas, a maior produtividade alongou o ciclo de baixa, pois mais tecnologia significa mais carne com menos gado. Além disso, a tendência é que o ciclo de produção fique mais curto, com o maior uso de tecnologia, pois leva-se menos tempo a produzir um animal.

O ciclo de baixa mais longo gera um ciclo de alta mais intenso, mais forte ou mais duradouro. É claro que uma das saídas é o uso ainda maior de tecnologia, como estamos vendo na cria o crescimento da IATF, por exemplo.

O longo ciclo de produção do gado de corte torna mais difícil, caro e demorado recompor o rebanho. O mundo produtor de carne bovina está cada vez mais consciente que produzir carne bovina é mais caro, mais difícil e mais demorado do que outras carnes como frangos, suínos e aves.

Outro fator importante, e muitas vezes esquecido, é o impacto das mudanças ambientais na pecuária. Desde que se começou a criar gado de corte no Brasil, se expande a área, se abre novas fazendas.

Essa era a realidade do Brasil e que não acreditamos que vá continuar assim, pelo menos nos próximos 10 anos. Pela primeira vez na história da pecuária de corte brasileira, vamos ter uma grande dificuldade de expansão da área de pastagens, de abrir novas fazendas. Isso é visto por quem quer abrir novas fazendas, mas é muito positivo para quem já tem áreas abertas. Sem novas áreas, a fonte de gado barato seca. Teremos menos oferta, vindo de novas fazendas. Em especial no mercado de bezerros, isso causa um impacto muito forte. E a agricultura tem crescido em áreas de pastagens.

Tudo isso levou a um longo período em que o gado teve queda real (deflacionada) no seu valor. De 1999 a 2006, o preço da arroba deflacionada caiu. Isso não aconteceu apenas com o gado. A tendência histórica das commodities agrícolas e não agrícolas era de queda de preço. O mundo passou por décadas em que a produção crescia mais facilmente que a demanda, ou seja, um cenário vendedor. E agora, com o rápido crescimento da demanda dos emergentes, estamos vivendo um mercado comprador.

Para complicar a situação da oferta (impactada por fatores de longo prazo como abate de fêmeas e restrições ambientais), esse ano o confinamento foi menor, pois os preços futuros no primeiro semestre não indicavam viabilidade econômica para a atividade em muitos casos. E por último, a seca desse ano foi mais intensa do que no ano passado, em especial no MT e GO.

Tudo isso contribuiu ainda mais para a redução da oferta e para preços máximos quase na casa dos R$120/@. Para surpresa de todos, o preço da carne sustentou o preço do boi gordo, uma comprovação que realmente o poder de compra, o apetite por carne pelo brasileiro, está bem alto. Nem as exportações recuaram, em outubro/10 vendemos o mesmo volume de setembr/10, com preço médio 8% maior. Em relação a outubro/09, vendemos 7% menos em volume, mas com preço médio 30% superior.

E 2011? Minha avaliação para o ano que vem é que o consumo interno e externo vão se manter firmes, em crescimento. Isso é muito positivo para o preço do boi e da carne. Do lado da oferta, teremos uma produção um pouco maior que em 2010, pois o cenário de preços é mais convidativo ao uso de tecnologia e confinamento. Vale lembrar que com exceção da seca (que não sabemos como será em 2011) e do confinamento, os demais fatores continuam válidos para o ano que vem.

Para finalizar, uma consulta, avaliando o cenário do ano que vem. Faz sentido termos preços do boi para safra 2011 (abril-maio) abaixo de R$90/@? Faz sentido termos preço do boi para entressafra (outubro-11) abaixo de R$100? Me parece que essa é a faixa mínima que vamos trabalhar ano que vem.
Fonte: http://www.beefpoint.com.br/?noticiaID=67783&actA=7&areaID=15&secaoID=123

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quarta-feira, novembro 17, 2010

Atraso no plantio vai enxugar a oferta de soja em MT em janeiro


A escassez de chuvas em Mato Grosso despertou forte preocupação nos produtores rurais ao adiar o plantio da soja por algumas semanas. Mas os efeitos do fenômeno "La Niña" sobre o mercado do grão deverão ser ainda mais acentuados em janeiro de 2011, quando deveria ser iniciada a comercialização da soja produzida no Estado.
 
O Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) estima que esse atraso no plantio provocará uma redução de 75% na oferta de soja do Estado, o maior produtor do país, no primeiro mês do ano que vem.
Se confirmado, o cenário deverá incrementar a disputa pela oleaginosa no mercado interno, o que implicará custos adicionais a indústrias esmagadoras, em virtude da ociosidade das fábricas, e obrigará tradings a comprar soja em outras regiões para cumprir seus contratos no exterior.
 
Ocorre que Mato Grosso domina a oferta de soja em janeiro. Apenas algumas poucas regiões de Goiás e do Paraná também entram no mercado no início do ano. Por isso, os prêmios da soja brasileira no mercado externo já subiram, passando de US$ 0,49 para US$ 0,77 por bushel na comparação entre março deste ano com o mesmo mês de 2011.
 
Essa diferença tende a ficar "descolada" por mais tempo do mercado internacional, o que deverá inclusive influenciar o mercados futuro na bolsa de Chicago, principal referência global para as cotações do grão. "Ou seja, quem tiver soja para oferecer em janeiro, terá uma ótima janela de oportunidades", afirma o superintendente do Imea, Otávio de Melo Celidonio.
 
Um cálculo inédito do Imea também aponta que, mesmo com preços melhores, os produtores deverão deixar de ganhar um adicional de R$ 120 milhões por não ter como oferecer a soja em janeiro. Acontece que, nesta época do ano, os preços costumam ficar 3% acima da média anual, segundo dados da última década compilados pelo Imea.
 
"Estamos vindo de estoques muito baixos, aqui e lá fora, por causa da forte demanda. Assim, o produtor perde oportunidade de fazer mais caixa porque essa soja vendida em janeiro tem alta liquidez", analisa o diretor-executivo da federação estadual da Agricultura, Seneri Paludo.
 
A oferta em Mato Grosso deve recuar de 4,072 milhões para 1,001 milhão de toneladas na comparação entre janeiro de 2010 e o mesmo mês de 2011. A média histórica dessa oferta em meses de janeiro é de 2 milhões de toneladas. A soja vendida em janeiro é direcionada para o esmagamento doméstico.
 
A oleaginosa também é um produto de maior risco climático porque é semeada assim que começam as primeiras chuvas, o que em Mato Grosso costuma ocorrer, em anos normais, em meados de setembro Por isso, os produtores deixam para vender o grão na "boca" da safra, quando podem obter melhores cotações. "Haverá disputa entre exportações e mercado interno. Eles também precisam dessa soja lá fora", afirma Seneri Paludo.
 
Hoje, apenas 31% da área de soja está plantada - em 2009, eram 51%. Não fosse esse atraso no plantio, o produtor poderia ter vendido muito mais para aproveitar os ótimos preços internacionais, em alta sustentada desde o início da atual safra 2010/11, iniciada em junho.
 
No Estado de Mato Grosso, 45% da safra já foi vendida ante 29% de igual período do ano passado. "Quem não vendeu nada e não travou o preço [na bolsa], vai ter bônus. Porque talvez nem tenha soja em janeiro, só em fevereiro", diz o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil), Glauber Silveira. "Mas para outros, vai haver transtornos, porque tem aquela pressão das tradings no mercado interno porque os estoques estão baixos. Vai ser uma loucura de gente querendo receber a soja".
 
A Aprosoja descarta recursos à renegociações de contratos ("washouts"), já que indústrias e tradings não deverão mostrar interesse em abrir disputas para prejudicar as boas relações comerciais. "Ninguém vai querer confusão", avalia Silveira. 
(Jornal Valor Econômico, Agronegócios/SP – 08/11/2010)

Mais Informações sobre cotações da soja e demais commodities

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Uso dos remédios em ração é ligado a superbactérias


Antibióticos misturados em comida de porcos, bois e frangos levam ao surgimento de organismos resistentes, diz pesquisadora
Controlar o uso de antibióticos em pessoas não é suficiente para conter superbactérias, alerta a pesquisadora alemã Kornelia Smalla. Ela defende a redução do uso dessas drogas em animais.
 
Para Smalla, que falou com a Folha na sexta, após palestra no Instituto Oswaldo Cruz, o problema é misturar antibióticos à ração, para estimular o crescimento de porcos, bois e frangos.
A prática, proibida na Europa desde a década de 90, ainda é permitida no Brasil. No ano passado, o senador Tião Viana (PT/AC) apresentou projeto de lei para aboli-la, mas o texto está parado na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado.
 
Smalla, que é do instituto Julius Kühn, diz que até o uso restrito ao tratamento de doenças traz riscos. Como os animais ficam confinados aos milhares, a ocorrência de uma doença em alguns resulta na distribuição de antibióticos para todos, o que favorece a disseminação das superbactérias.
 
"Algumas têm genes que as protegem dos antibióticos. Quando usamos esses medicamentos, elas são as únicas que sobrevivem", diz. Com o ambiente livre dos outros micróbios, elas passam a se multiplicar de forma rápida, o que eleva o risco de que, um dia, entrem em contato com pessoas com baixas defesas. O resultado são infecções que podem matar.
A situação fica mais grave porque as bactérias trocam informações genéticas: um organismo inofensivo ao homem que se prolifere pela capacidade de resistir a antibióticos contribui para que outro, patogênico, também ganhe essa característica.
 
"O antibiótico não age só sobre os causadores de doenças, mas sobre todas as bactérias." Para enfrentar o problema, ela defende mudanças na criação dos animais, com o fim do confinamento.
 
(Jornal Folha de S. Paulo, Saúde/SP – 08/11/2010) 

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quinta-feira, novembro 11, 2010

CFZ na Área!


CCJ do Senado aprova projeto que cria Conselho Federal de Zootecnia

Marcos Chagas

Repórter da Agência Brasil

Brasília - A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou hoje (10) projeto de lei que cria o Conselho Federal de Zootecnia bem como os conselhos regionais. O objetivo das instituições será fiscalizar o exercício da profissão regulamentada por lei federal. Por conter ''um vício de inconstitucionalidade'' uma vez que não cabe ao Congresso e sim ao Executivo criar autarquias e conselhos, o relator Eduardo Suplicy (PT-SP) apresentou emenda de redação que autoriza o presidente a criar esses conselhos.

A matéria vai agora à sanção presidencial. No seu parecer, o relator destacou que existe atualmente 104 cursos de zootecnia no país que já formou 20 mil profissionais. Hoje, o exercício da profissão é fiscalizado pelos conselhos nacional e regionais de medicina veterinária.

Edição: Talita Cavalcante

Fonte: Site Terra

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